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Entrevista com o autor Milton Blay sobre o novo livro "A nova ordem moral"

O renomado jornalista Milton Blay anuncia a publicação de sua nova obra, ‘A Nova Ordem Moral’, pela Editora Kadimah. Com lançamento previsto para novembro no Brasil, o livro aprofunda a análise sobre o crescente antissemitismo no mundo e suas implicações para a sociedade contemporânea. Em entrevista exclusiva, Blay compartilha sua perspectiva sobre os eventos de 7 de outubro e os desafios que a humanidade enfrenta diante do ressurgimento de antigas intolerâncias.


Por que você resolveu escrever um livro sobre o “depois do 7 de outubro?


Ao tomar conhecimento do pogrom do Hamas, na manhã do dia 8, mergulhei num longo choro. Impossível pronunciar uma só palavra... As lágrimas caíam, somando-se às que rolavam pelo rosto da minha mulher, igualmente muda. Foram momentos de um indescritível sofrimento, misturado com ódio, fraqueza, impotência, horror, repugnância. As imagens monstruosas que desfilavam eram inconcebíveis, irreais. A vontade era sair dando socos na parede. Mas a incapacidade de sair do lugar era ainda maior. Eu nunca havia sentido algo tão forte e desesperador. Quis gritar, mas o berro não saiu. Um ano após o shabat mais sombrio do pós-2° Guerra, o grito surdo continua entalado na garganta. O ódio me lembra, a cada dia, a cada instante, que sou judeu. E que, como tal, não nascemos no mesmo país dos nossos avós, assim como nossos netos não nasceram e talvez não venham a nascer no mesmo lugar que nós. O que fazer? Preparar as malas? Outra vez? Ir para onde? Para um lugar onde possamos estar juntos, livres, e que ninguém seja obrigado a ter de escolher entre duas crianças que morrem duas inocências que desaparecem. No dia 8 de outubro, horas após o pogrom, o mundo já olhava em direção de Israel aos gritos de Atenção, estamos de olho em vocês! Eu choro... Choro a história que se repete, choro o silêncio ensurdecedor, choro a falta de um ombro não judeu. Choro a ignorância dos pseudo-humanistas que me acompanharam na campanha presidencial de Lula e que se tornaram sem se dar conta, fascistas abjetos, antissemitas notórios. O pior não é que sejam ignorantes, é que estejam satisfeitos assim. A extrema-esquerda abraça a causa do Hamas, preconiza o fim de Israel em nome de um antissemitismo fantasiado de antissionismo. A palavra de ordem é Free Palestina - Palestina livre, como se houvesse democracia em Gaza e não um regime autocrático, uma teocracia obscurantista, que discrimina mulheres e mata homossexuais. O Hamas é um grupo terrorista, de extrema-direita; a esquerda radical sabe disso e o apoia. Sim a um Estado Palestino democrático, soberano, vivendo em paz e cooperação com Israel. Quanto à Lula, que comparou Gaza a Auschwitz, Hitler a Netanyahu, nos deve desculpas. Foi incapaz de chamar o Hamas de grupo terrorista. Nós, judeus da Diáspora, temos a obrigação, o dever de restabelecer a verdade e mostrar a dignidade do nosso medo judaico de 3 mil anos. Foi o que tentei fazer neste livro. Temo, contudo que meus leitores sejam todos - ou quase, judeus, pois muitos não judeus parecem se negar a todo e qualquer questionamento, preferindo as narrativas aos fatos.


O conflito em Israel tem aumentado o antissemitismo no mundo todo. Como foi na França?


Na França, o líder da esquerda Jean-Luc Mélenchon imediatamente tomou partido dos terroristas, qualificando-os de resistentes palestinos, vítimas da opressão colonial. Certamente pulou os primeiros artigos da Carta do Hamas, que defende a destruição de Israel, a Palestina do rio ao mar. Logo após as eleições para o Parlamento europeu, o presidente Emmanuel Macron dissolveu a Assembleia Legislativa francesa, nos colocando numa situação impossível. Deixou face a face, o partido Reunião Nacional, de extrema-direita, criado em 1972 pelo colaborador nazista Jean-Marie Le Pen e membros da Waffen SS; de outro, o bloco de esquerda Front Populaire, liderado pelo radical antissemita, apoiador do Hamas, Jean-Luc Mélenchon. Os quase 600 mil judeus da França se dividiram. Serge Klarsfeld, conhecido historiador e caçador de nazistas, optou pelo partido de Le Pen, apostando na mutação de sua líder Marine Le Pen. A comunidade esfrangalhou. Se o discurso da extrema-direita nazifascista é abertamente islamofóbico, o da esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon não esconde seu ódio dos judeus, a ponto de se negar terminantemente a qualificar o Hamas de grupo terrorista. Não consegue nem sequer condenar com palavras os crimes sexuais do 7 de outubro. Vários elementos de seu partido France Insoumise são investigados por incitação ao terrorismo. Mélenchon considera o Hamas como parte da Resistência palestina e afirma abertamente que o pogrom se explica ao contrário da “inadmissível” violência de Tsahal. Uma deputada franco-palestina do partido defende abertamente o Hamas e participa de passeatas a favor da destruição de Israel. Na verdade, tanto os herdeiros do neonazista Front National, de Jean-Marie Le Pen, como os militantes “gauchistes” da France Insoumise são antissemitas. Uma pesquisa mostrou que mais de 1/3 dos jovens consideravam justo atacar judeus franceses, na França, por um hipotético apoio ao governo israelense. Esses jovens, portanto, defendem o direito ao antissemitismo em nome dos direitos humanos. Bota loucura nisso! O número de atos antissemitas quadruplicou na França em 2023, chegando a 1.774, para ultrapassar os 2 mil nos quatro primeiros meses de 2024. A título de comparação, em 2022 foram registrados 436 atos antissemitas segundo o Ministério do Interior. O Conselho Representativo das Instituições Judaicas na França lamenta “um surto” antissemita após o 7 de Outubro. 94% dos judeus dizem ter medo. O rabino-chefe da Grande Sinagoga de Paris, Moshe Sebbag, decretou: - Não há futuro para os judeus na França.


Como está a França depois das eleições e da nomeação do primeiro ministro?


A França está numa situação sui generis, extremamente frágil e desequilibrada. Aliás, não se pode dizer que a França tenha um governo democrático. Nas eleições legislativas antecipadas, o bloco de esquerda foi o mais votado, sem, no entanto obter a maioria necessária para governar. O partido macronista foi o segundo colocado, seguido da extrema-direita e dos independentes; os Republicanos, de centro-direita, ficaram em quinto lugar, com pouco mais de 40 deputados. Por incrível que seja, contudo, Macron nomeou um membro deste partido para o cargo de primeiro-ministro, que formou um gabinete hiperconservador, que pode ser censurado a qualquer momento, tendo de renunciar. Este clima, é claro, favorece a extrema-direita e deixa o país numa situação de cai, cai. O partido de Le Pen é o primeiro da França. Marine Le Pen, filha do fundador do partido, tem grandes chances de vir a ser eleita presidente da República nas próximas eleições; é tida como favorita.


Por que o título do livro “A Nova Ordem Moral”?


Durante os últimos 80 anos, apesar dos sobressaltos, acreditamos no “Plus jamais ça”, Nunca mais! Aos horrores dos massacres, dos ódios, do antissemitismo, de um continente europeu sem judeus. Em 1945, o mundo respirava sobrevivente de uma tentativa de suicídio. Hoje, o sentimento é que estamos novamente próximos do abismo, e que caminhamos a passos de gigante. O fundamento ético da ordem mundial deixou de ser o “Nunca mais” do pós-Holocausto. O discurso ficou vazio, palavras como genocídio e Holocausto foram tão banalizadas, quanto bom dia, boa noite, tudo bem. Servem para designar qualquer coisa, menos aquilo que realmente querem dizer. Os valores do Iluminismo implodiram. O pogrom do Hamas, de 7 de outubro de 2023, e a hecatombe em Gaza ultrapassam os limites do conflito israelo-palestino, tampouco estão circunscritos às fronteiras do Oriente Médio; eles sugerem que atravessamos um momento de tentativa de refundação da ordem moral, ética e geopolítica. Após o extermínio dos judeus pelos nazistas houve um consenso entre o bloco soviético e os ocidentais, com o processo de Nuremberg, em 1947, como a expressão mais significativa. Esse consenso pertence ao passado, a cerimônia de enterro aconteceu no ataque terrorista do Hamas e na guerra que seguiu.


Impressionante como a memória deste ataque foi rapidamente esquecida, varrida para baixo do tapete da comunidade internacional. China, Rússia, Irã, Turquia, Índia, o “Sul Global” se uniram à ONU para apagar o pogrom e apontar um único responsável e culpado: Israel e os judeus. O antissemitismo, que na verdade nunca deixou de existir, se liberou, se espalhou, acompanhado de acusações pouco sérias de genocídio, imediatamente adotadas e apontadas, dedo em riste, pela esquerda. Ou melhor, pela pseudoesquerda, que dissimula seu antissemitismo atrás da cortina do antissionismo, que é capaz de apoiar todo tipo de discriminação em nome do que considera ser o mal maior, o colonialismo, do qual também acusam Israel. A democracia deixou de ser um conceito de peso. As guerras contra o Hamas, o Hezbollah, os hutis, o Irã, assim como a invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin, fazem parte deste conflito maior contra o ocidente. A conclusão do artigo de Allister Heath no Daily Telegraph é exemplar: “Se você derrubar Israel destrói as próprias ideias que sustentam o Ocidente, a ordem internacional implode e as autocracias triunfam”. Na Conferência de Paris sobre a ajuda humanitária à Gaza, ao falar como representante oficial do Brasil, portanto como porta-voz do presidente, Celso Amorim usou o termo genocídio ao se referir a Israel. Ora, Israel não comete genocídio em Gaza, mesmo se alguns membros extremistas de seu governo o desejassem. O Brasil foi assim o primeiro país a acusar Israel de cometer genocídio contra a população palestina. Pouco tempo depois, Lula comparou a resposta israelense ao holocausto, o que nenhum outro chefe de Estado ousou. O Hamas agradeceu o posicionamento brasileiro. Lula preferiu, de maneira consciente ou não, se atacar ao símbolo máximo do mal absoluto, o Holocausto. Acabou, como só podia ser, ferindo gravemente a memória universal. Machucou cruelmente os judeus, claro, porém não apenas, ultrajou todas as vítimas do nazismo, seus sobreviventes e herdeiros, ou seja você, eu, muitos de nós. Netanyahu foi o menos atingido pelas palavras ferinas; os judeus do mundo inteiro, os principais ofendidos. Lula não deve desculpas ao primeiro-ministro de Israel, mas sim a nós. Talvez ele não tenha se dado conta da crueldade de suas palavras, imaginando que tudo não passava de uma “simples” crítica à morte deplorável de milhares de mulheres e crianças, em Gaza. Errou, e feio. Propositadamente ou não, atiçou o fantasma do antissemitismo, imediatamente abraçado pela esquerda radical, que não hesita em responsabilizar os judeus pelos horrores da guerra. Para chamar a atenção sobre a tragédia, Lula comparou o incomparável e para deixar bem claro o seu alvo, apelou até para Hitler.


Você virá ao Brasil para o lançamento do seu livro?


Sim, estarei aí no início de novembro para abraçar os amigos e conversar em tête-à-tête com os leitores. É preciso ocupar todos os espaços de diálogo, precisamos ser audíveis. Hoje mais do que nunca.


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Matéria publicada na edição de outubro de 2024


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